Mais diversão para mais gente

Os cinemas ficaram vazios nos últimos meses. Com a pandemia, muitos estúdios adiaram ou mudaram a estratégia de lançamento de seus filmes. A Disney, por exemplo, cancelou a estreia da sua mais recente live action, “Mulan”, nas telonas. O longa vai ser lançado no streaming, na plataforma Disney+. Para assistir ao filme será preciso pagar US$ 30 pelo aluguel, além da assinatura da plataforma. O novo filme do diretor Christopher Nolan, “Tenet”, também vai direto para o digital. Já “The Batman” teve sua premiere adiada de junho para outubro de 2021. 

Para as pessoas que sentem falta de ir à sala de exibição, as produtoras recriaram a experiência transformando drive-in em cinemas, onde cada um assiste ao filme do próprio carro – com pipoca e bebidas à venda no local.

Drive-in: invenção antiga renovada durante a pandemia

No Brasil, são 22 cinemas drive-in espalhados em nove Estados e no Distrito Federal. Alguns receberam festivais. O É Tudo Verdade, por exemplo, fez a abertura da sua 25ª edição no drive-in Belas Artes, com o filme “A Cordilheira dos Sonhos”, de Pedro Guzmán. As demais exibições do evento serão em plataforma de streaming. Já o festival CineFantasy, que reúne filmes do universo fantástico de diversos países, foi o primeiro a disponibilizar seus conteúdos totalmente online, entre os dias 07 e 20 de setembro.

Festivais de música não ficaram alheios aos impactos. O Lollapalooza 2020, um dos maiores eventos musicais do mundo, teve sua edição brasileira – que aconteceria entre 03 e 05 de abril – adiada para o ano que vem, ainda sem data. 

Tomorrowland: 1 milhão de espectadores virtuais

O Tomorrowland, sediado na Bélgica, ignorou os limites do mundo físico e partiu para um evento totalmente digital. A edição, que foi chamada de Tomorrowland Around the World, aconteceu nos dias 25 e 26 de julho e teve mais de 1 milhão de espectadores. O evento permitia que as pessoas entrassem alguns dias antes na plataforma para configurar o som e a imagem em busca da melhor experiência possível. 

O teatro também se adaptou. No formato de live, os atores passaram a interpretar peças dentro de suas casas, como foi o caso do ator Matheus Nachtergaele no monólogo “Desconscerto”, transmitido pelo canal do Sesc no Youtube. Em outras interpretações, os atores se reuniram no palco para encenar, mas sem o público, que assistia às lives em casa. A L21 Corp, holding que reúne diversas empresas de entretenimento no Brasil, promoveu 19 espetáculos, entre peças teatrais e apresentações musicais, durante três meses da quarentena. Em comparação, de janeiro a março (antes da pandemia), foram realizados 96 eventos. O valor para assistir a uma peça de teatro ou a um show online é cerca de R$ 15, valor abaixo da média de grandes produções. Além disso, os ingressos são ilimitados.

O fenômeno das lives, portanto, gerou um efeito colateral positivo: democratizou o acesso aos conteúdos. Com ingressos mais baratos e espetáculos virtuais, mais gente consegue assistir. Locais distantes dos grandes centros, que normalmente não receberiam essas produções, puderem acompanhá-las. “O entretenimento surgiu como uma forma de as pessoas passarem pela pandemia um pouco mais suavemente, com isso, houve um crescimento do mercado consumidor no Brasil”, afirma Luiz Calainho, controlador da L21 Corp. 

As lives musicais brasileiras, por exemplo, ficaram entre as de maior audiência no Youtube. Em maio, a plataforma divulgou um ranking apontando que sete das dez apresentações mais assistidas no mundo, entre abril e maio, foram de artistas nacionais, como Marília Mendonça e Sandy e Junior – com 3,31 milhões e 2,55 milhões de espectadores, respectivamente. Já as vendas de games subiram 400% em 2020, na comparação com o ano anterior. Em relação ao streaming, uma pesquisa da corretora Bernstein Research divulgou que a Netflix ultrapassou a marca de 17 milhões de assinantes no Brasil. O país representa o segundo maior mercado da plataforma fora dos Estados Unidos.

Confiante na expansão do mercado, Luiz Calainho acredita que o fenômeno das lives não vai passar quando a pandemia chegar ao fim. “O momento ainda é de desafio, mas a indústria do entretenimento sairá desse fenômeno muito melhor do que entrou”. 

Por Gabriella Lopes, Julia Fregonese e Victoria Pirolla