Skip to content
 
temporada 1 • episódio #5

De gago a comunicador pioneiro

26.nov.2019

Eduardo Adas se curou da gagueira ao mudar de comportamento. Mais tarde, criou um mercado no Brasil ao fundar a SOAP, que produz apresentações corporativas. Neste episódio, fala da importância da comunicação e defende que atitude empreendedora deveria ser matéria nas escolas.

 

Ouça o episódio aqui

    

Eduardo Adas é sócio-fundador da Soap (State of The Art Presentations), uma empresa pioneira do mercado brasileiro de apresentações de alto impacto, e coautor dos livros “Superapresentações” e “Detone”. Apesar de empreender na área de comunicação, se formou em engenharia de produção, começou a carreira como consultor corporativo e, por 15 anos, dirigiu uma consultoria antes de abrir a Soap. Nesta entrevista, ele fala sobre a mudança da engenharia para a comunicação, o processo para acabar com a gagueira e os desafios de ser uma empresa pioneira no mercado.

ATITUDE EMPREENDEDORA. Como um engenheiro vai parar na área de comunicação?
EDUARDO ADAS. Pois é, na verdade, a engenharia sempre fez parte da minha vida, porque desde pequeno eu tenho raciocínio estruturado muito claro. Sempre procuro pensar simples, de forma prática, pragmática. Quando resolvi ser engenheiro eu já tinha, na adolescência, superado uma dificuldade: eu era gago. O fato de eu ter superado essa dificuldade me fez perceber o valor da comunicação. Não só para a vida pessoal, mas, posteriormente, para a vida profissional, porque assim que me formei como engenheiro, comecei a trabalhar com consultoria para empresas na área de produtividade, qualidade e melhorias de processos. O meu desafio como consultor era convencer as pessoas de que eu estava oferecendo aquilo para melhorar a vida delas. Melhorar a vida significa conquistar a confiança do seu público e, desde sempre, percebi que para conquistar a confiança a comunicação é fundamental. Não basta ter um projeto técnico à sua disposição se, do outro lado, as pessoas não confiarem que as suas intenções são as melhores possíveis. Por isso sempre tratei a comunicação como uma ferramenta estratégica para conquistar a confiança das pessoas.

Atitude. Mas como foi transformar a comunicação em um projeto seu e o início de um novo negócio?
EA. Pois é, vida de consultor não é fácil. Aquela pessoa que entra, se senta na janelinha, olha para dentro da empresa e quer mudar tudo. Por outro lado, as pessoas olham para você com uma certa resistência, com insegurança. Mas eu conseguia conquistar a confiança das pessoas no momento das minhas apresentações. Eu sempre fazia de uma forma completamente diferente da tradicional. Para mim, a apresentação nunca foi uma ferramenta, mas sim um meio de comunicação para conquistar a atenção e a confiança das pessoas. Eu já desenvolvia um método que, não por acaso, é o processo atual da Soap. Ele começa com a definição de uma estratégia. Para definir uma estratégia, você precisa conhecer bem o seu objetivo, pesquisar quem é o público e, a partir daí, conta uma história. Essa história não só estabelece uma conexão racional, mas, principalmente, emocional e de confiança com o público a partir de um storytelling. Os meus clientes percebiam que minha abordagem tinha valor, e eu atingia meus objetivos e levava meus projetos adiante. Ao mesmo tempo, meu ex-sócio fazia uma abordagem muito semelhante na consultoria em que trabalhava e nós nos ajudávamos. A gente trocava muitas figurinhas, ele na consultoria dele e eu na minha, e isso era muito positivo. Eis que, de uma forma bem ruminada, em 2003, nós resolvemos começar a cobrar por isso. Mas, sinceramente, não imaginávamos que a Soap tomaria essa dimensão. Eu pensava que os clientes da empresa seriam os mesmos da consultoria, ou seja, que seria um negócio de suporte, e me enganei. A Soap nasceu em abril de 2003. Quando começamos a trabalhar com foco nisso não só os clientes contratavam como nossos conhecidos também. A Soap tomou uma dimensão maior do que a gente imaginava na época, e de uma forma muito rápida.

Atitude. Como foi a superação da gagueira?
EA. Por muito tempo, eu sofri bullying na escola. Eu tenho traumas que estou superando, comecei a superar muito recentemente, mas não foi fácil. O interessante, o positivo de tudo isso é justamente hoje eu ter ciência de que, talvez, a Soap não existisse se eu não tivesse sido gago. Porque eu não daria à comunicação a importância que passei a dar no começo da minha vida profissional.

Atitude. E como você superou?
EA. Eu sempre fui um otimista crônico e coloquei na minha cabeça que ia superar, de uma forma ou de outra. Uma técnica que me ajudou muito foi a programação neurolinguística. Na época, meu primo, Gilberto Cury, da Sociedade Brasileira de Programação Neurolinguística, me deixou à disposição todos os workshops e os treinamentos possíveis de PNL. Eu fiz tudo, desde o básico até o master practitioner. E eu não tenho dúvida de que a PNL, aliada ao meu otimismo e à minha decisão de superar, contribuiu para eu conseguir de fato essa superação.

Atitude. Qual é o papel da comunicação na vida de uma pessoa?
EA. Tenho uma crença de que a comunicação é fundamental para o sucesso profissional. Aliás, eu enxergo três pilares. O primeiro é o técnico, você precisa ser bom naquilo que se propôs a fazer, a partir de uma boa formação, uma boa faculdade, e você evoluindo sempre. O segundo pilar, eu não tenho dúvida, é a comunicação, porque pessoas bem-sucedidas, que conquistam a confiança, os grandes líderes, são bons comunicadores. Por fim, o terceiro, é o networking, a consequência de uma boa comunicação. Falo para meus filhos desde pequenos: “Se tiverem uma boa formação, uma boa comunicação e, consequentemente, um bom networking, não tem como vocês não darem certo profissionalmente”.

Atitude. Você pode nos contar algum caso desafiador, com alguém ou alguma empresa, em que tenha havido uma dificuldade grande de fazer essa comunicação?
EA. O exemplo que me vem à cabeça é quando ajudamos nossos clientes em convenções. Algumas convenções são gigantescas, com sete mil pessoas na plateia. Se já não é fácil falar para cinco pessoas, imagine para sete mil, e na primeira fila estão sentados o presidente, o diretor e o seu chefe. Não é fácil para quem não está acostumado, mas os resultados que eu obtive nesses 17 anos foram fantásticos. Quando a pessoa se sente dona do roteiro, segura e tem apoio visual adequado – apoio visual não é um documento na tela, é simplesmente um guia para ajudar a pessoa a falar sua narrativa, prender a atenção e gerar entendimento da plateia –, entramos na última etapa, a da performance. Ela é fundamental, porque quem conquista a confiança não é o material, mas a pessoa que vai conduzir o material.

Atitude. Então, não adianta ter um slide lindo e um apresentador inseguro?
EA. Não. Quem precisa estar orgulhoso e feliz com a apresentação, em primeiro lugar, é quem a montou, isso já é meio caminho andado. A primeira evidência de que a pessoa terá um bom desempenho é quando ela faz a apresentação independentemente do apoio visual. Trabalhamos também a performance do ponto de vista psicológico, da oratória, da autoconfiança e do domínio emocional. Muitas vezes, as pessoas morrem na praia devido a um sequestro emocional. Quando o seu diálogo interno e a sua autocomunicação não são positivas, normalmente, eles o sabotam.

Atitude. Voltamos ao mesmo tema de sempre: a construção começa dentro da gente.
EA. Até porque a comunicação não verbal te denuncia. Antes de falar, você já emite sinais de estar nervoso. Esses sinais de nervosismo podem comunicar para o público falta de convicção naquilo sendo falado e dar a impressão de que falta verdade. É assim que os projetos muitas vezes morrem na praia.

Atitude. O que é para você atitude empreendedora?
EA. Na minha visão, atitude empreendedora deveria ser matéria escolar. Porque o empreendedor não é só quem tem uma ideia. Ter ideia, no fim das contas, todo mundo tem, você junta um grupo de amigos, coloca um copo de vinho em cima da mesa…

Atitude. Faz um brainstorming…
EA. Faz um brainstorming e naturalmente as ideias vêm. O que faz a diferença para o empreendedor é a execução da ideia, do ponto de vista do planejamento, da disciplina, da resiliência diante dos obstáculos que vai enfrentar. Para a pessoa ser uma empreendedora profissional ela precisa ser uma empreendedora pessoal, ter um projeto pessoal e estar sob controle. Na minha visão, estar bem e confiar em você mesmo é o ponto de partida.

Atitude. A Soap foi pioneiro, mas depois apareceram concorrentes. Como você lidou com isso?
EA. Vou confessar para vocês, por termos sido os pioneiros, quando começaram a aparecer algumas empresas, não foi fácil. Eu fiquei realmente com aquela sensação, “puxa vida, mas isso é meu”. E logo me convenci e mudei totalmente de ideia quando vi que nós criamos um mercado. Nosso desafio passou a ser continuarmos os melhores dentro desse mercado. Sempre falo na Soap que nosso objetivo é olhar para frente, inovar, criar. Claro, olhando para o lado, respeitando a concorrência, mas sempre procurando inovar e seguir nossa essência.

Atitude. Você foi o primeiro cliente do Atelier e falou que nós não somos as únicas. Você já foi o primeiro cliente de mais de uma empresa. O que faz você topar ser o primeiro cliente de alguém, fazer essa aposta?
EA. Meu propósito é inovar. Quando você encontra pelo caminho pessoas em que confia, em que vê nitidamente brilho nos olhos, você traz para junto de si e vai em frente. Vou dar um exemplo dos meus queridos André e Eric, da Resultados Digitais. Quando eles chegaram à Soap, eu perguntei: “Puxa, adorei a proposta, muito bacana, me conta, para quem vocês já fizeram serviços semelhantes?”. Eles falaram: “Vocês são os primeiros”. Eu falei: “Fechado”. Porque eles já tinham conquistado a minha confiança. Eles tinham conhecimento técnico sobre o assunto e tinham convicção e paixão pelo negócio que estavam começando. Na época eu pensei: “Poxa, não tem como não dar certo. Ainda bem que ninguém nunca contratou e eu vou ser o primeiro, porque com certeza eles vão fazer o melhor possível para sermos a grande referência deles”. O que nós mais queremos é cruzar com essas pessoas que queiram inventar algo completamente novo.

Atitude. O que é brilho nos olhos para você?
EA. Brilho nos olhos significa muito mais do que ter conhecimento técnico. Muitas vezes, eu cruzo com pessoas entrevistadas para trabalhar na Soap, elas são boas tecnicamente, mas não passam a convicção de estarem comprometidas. Quando eu vejo uma pessoa com convicção, paixão e vontade, mas sem a parte técnica, eu falo, “tudo bem”, porque a parte técnica você forma e ensina. O que você não ensina, e depende muito da pessoa, é a atitude dela, sua convicção e seu comprometimento.