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temporada 1 • episódio #7

A resolvedora de problemas

12.dez.2019

A jornalista Barbara Soalheiro criou uma empresa – e um método – para resolver problemas em 5 dias. De produtos e campanhas a cultura corporativa, a Mesa Company ajuda a superar desafios de empresas como Coca-Cola, Fiat, Nestlé e Natura.

 

Ouça o episódio aqui

    

Barbara Soalheiro é jornalista e empresária. Passou pelas redações das revistas Superinteressante e Capricho, onde foi editora-chefe, depois assumiu a mesma posição na revista Colors, na Itália. Em 2011, fundou uma empresa, que é também um método de trabalho superempreendedor, chamada Mesa. A Mesa Company é uma agência, consultoria e boutique de ideias que tem base em São Paulo, mas tem clientes pelo mundo. Barbara atende empresas como Coca-Cola, Fiat, Nestlé e Natura para ajudá-las a criar, em pouco dias, produtos que, pelos processos tradicionais, levaria meses ou anos em uma grande corporação. Nesta entrevista, ela fala sobre a criação, construção e pensamentos da Mesa Company.

ATITUDE EMPREENDEDORA. O que é a Mesa Company?
BARBARA SOALHEIRO. A gente se define como um método de trabalho em equipe, desenhado para resolver problemas complexos em cinco dias. São sempre cinco dias, e a gente faz isso olhando para um problema e uma solução real, que pode ser implementada a partir do dia seguinte. A maior crença da Mesa é que o único jeito de resolver um problema é se concentrar numa tomada de decisão, que é muito diferente de pensar num planejamento. Deixamos o próprio problema dizer qual é a solução. Em vez de falar: “Eu tenho esse problema, vou resolver com o meu time”, a Mesa fala: “Deixa o problema te dizer quem é o time certo para chegar à solução”. Com as respostas, a gente monta os times e fala: “Bom, agora tem que resolver”. E resolve, porque se você der a missão, as pessoas fazem.

Atitude. De onde vem esse número cinco? Por que em cinco dias chega-se à solução do problema?
BS. Simplesmente porque é uma semana de trabalho. A gente começou fazendo em seis dias, mas, em um determinado momento, quando a demanda cresceu muito, a gente resolveu fazer de segunda a sexta. E é muito interessante porque, hoje em dia, há uma divisão bem específica, de cinco etapas de trabalho. Mas a gente faz mesas em três dias, a gente faz até em sete dias. Mas pelo nosso método você consegue resolver qualquer coisa em cinco dias, desde que você consiga garantir 100% do conhecimento e 100% das habilidades, que é a maior trava, na maior parte das vezes. Acho que tudo na Mesa é muito simples, muito óbvio, e talvez por isso seja tão potente. Porque a gente não está reinventando, criando uma coisa superelaborada. É o simples profundo.

Atitude. E as pessoas conseguem definir esse problema exatamente ou chegam a uma coisa genérica, e depois você tem que ir cutucando para saber onde está o núcleo mesmo?
BS. Então, tem essa crença de que achar o problema é a coisa mais difícil. Metade da solução é você achar o problema certo. Não é que eu discorde dessa frase, mas eu acho que as pessoas que costumam dizer isso estão dizendo um pouco que você definir corretamente o problema é um processo muito longo, e dessa parte eu discordo. O Método Mesa prova que isso não é verdade, porque a nossa regra é: “sete minutos de conversa com o dono do problema”. A pessoa que é dona do problema te conta ele em sete minutos. Só que o que acontece em outros processos de trabalho é que as pessoas falam com muitos intermediários, muitas pessoas que não são as donas do problema. Por exemplo, quando você não está falando com o dono do problema, você acha que está ouvindo o que é essencial, mas não, você está só recebendo impressões, tentativas de soluções e todo o processo de brifar. Deixa o problema te dizer de quem você precisa. Dessa maneira você começa a ver a solução.

Atitude. Pode dar algum exemplo?
BS. O Google Earth, plataforma do Google em que você consegue ver o globo, ia lançar conteúdo dentro da plataforma. Era um novo feature global e eles queriam que o primeiro conteúdo fosse a Amazônia, mas não tinham definido nenhum outro detalhe como conteúdo e duração dos vídeos. Fizemos uma mesa de 7 dias com um timaço que tinha o Fernando Meirelles de roteirista, lideranças locais e um desenvolvedor, que fez a plataforma. Produzimos muitos roteiros em apenas 7 dias e isso só foi possível porque tínhamos um grupo com todo o conhecimento e todas as habilidades.
Outro case que eu gosto muito de contar foi o que fizemos para um artista holandês chamado Berndnaut Smilde, cuja onda é reproduzir fenômenos naturais de forma artificial. Então, ele faz nuvens dentro de um espaço fechado, por exemplo. Havia três anos que ele estava há três anos tentando fazer um arco-íris em uma paisagem sem conseguir, e ele já tinha trabalhado com excelentes físicos, excelentes especialistas em luz, só que ele nunca tinha feito isso com todo mundo junto. Com a Mesa ele criou o arco-íris em cinco dias.

Atitude. Alguma vez não deu certo?
BS. A gente nunca deixou de entregar alguma coisa. Nunca largamos no meio do caminho. De 182 mesas, se não me engano 20 soluções não foram implementadas. E isso a gente considera um fracasso. Ainda que, dessas 20, os nossos clientes jamais diriam que foram um fracasso, porque eles vão dizer: “Cara, isso aí não foi implementado porque a gente mudou de decisão”, mas a gente sempre acha que se não foi para o mundo não valeu.

AE. Em que momento você vislumbrou a ideia de fazer uma empresa como A Mesa?
BS. O primeiro documento que existe sobre a Mesa é de uma época em que eu estava na Itália, em um centro de comunicação da Benetton. É um lugar muito internacional, muito interessante, onde você está sempre em contato com o novo. O ano era 2008, durante a a crise econômica mundial, e havia uma sensação de que tudo ia mudar. Naquele momento a sensação era de que não havia benchmark para nada mais. Se não tem benchmark, uma fórmula para copiar, como se resolve um problema? Em que estrutura, em que dinâmica você constrói? Então, a Mesa foi nascendo dessa vontade de criar a experiência de trabalho perfeita. A verdadeira recompensa do trabalho não é o dinheiro, é essa sensação que se tem quando se cria uma coisa nova. Não é à toa que quase todas as religiões se referem a Deus como Criador. A coisa mais central para o ser humano é criar alguma coisa. A Mesa te dá isso. Você tem um problema e praticamente você cria a solução.

Atitude. É recorrente vocês fazerem esse exercício internamente, de olhar para os próprios problemas e buscar a solução?
BS. Só resolvemos as coisas em mesa. O Mesa.School, que ensina nosso método ao mercado, é resultado da mesa mais importante que fizemos para nós mesmos. Nosso problema era: como escalamos o nosso negócio? A solução que encontramos foi a de abrir o método. Foi uma decisão difícil, especialmente para mim. Foi a mistura perfeita de altruísmo com egoísmo. Eu tive medo de fazer isso, mas decidi seguir e dar um passo para frente. Acho que talvez esse seja o meu conselho para a maior parte dos líderes: quando você estiver com muito medo, o melhor a fazer é dar um passo para a frente e não um passo para trás, como tendemos a fazer. Quando você dá o passo para a frente, a coragem vem.