A reinvenção dos negócios imposta pelo coronavírus

Em 2020 fomos pegos de surpresa pela pandemia. De um dia para o outro, nossas rotinas mudaram e fomos obrigados a nos adaptar rapidamente às transformações em casa e no trabalho. Com o nosso podcast Atitude Empreendedora não foi diferente. As gravações, que antes aconteciam no Studio Tesis, com toda infraestrutura e equipamentos para a melhor qualidade de áudio, tiveram que ser feitas dentro de casa (detalhe: com cada participante em sua própria casa), sem nenhum contato físico ou visual.

Em alguma medida, é provável que todas as pessoas tenham mudado o jeito de fazer suas atividades durante este momento. Uns mudaram mais radicalmente, outros já tinham um modelo de trabalho mais híbrido e se adaptaram com mais facilidade ao trabalho remoto e à vida à distância. Mas todos tiveram que se reinventar de alguma forma, o que é uma atitude empreendedora.

André Siqueira, da Resultados Digitais

Salas virtuais para mais proximidade

Durante a segunda e a terceira temporadas do podcast, nossos entrevistados contaram um pouco como se adaptaram à quarentena. Para André Siqueira, da Resultados Digitais, por exemplo, o impacto não foi tão grande. No episódio #15 ele falou à reportagem do Atitude que o trabalho remoto, apesar de não ser padrão, já fazia parte da rotina da equipe. “Já tínhamos ferramenta de comunicação, somos acostumados a fazer call. Já lidávamos com a distância mesmo quando estávamos no escritório”, disse. Excepcionalmente para esse momento, a empresa criou uma plataforma interna online que mostrava as diferentes salas do escritório (terraço, sala de reunião, sala do time) e permitia que os colaboradores interagissem como se estivessem lá dentro.

Paulo Correa, CEO da C&A

Varejo mais próximo, porém digital

O impacto da Covid-19 também derrubou alguns mitos, como relatou Paulo Correa, presidente da C&A no Brasil no episódio #17. Ele, que nunca havia experimentado o trabalho remoto por ser um defensor no “olho por olho” fisicamente, mudou sua visão.  “Esse mito de home office versus escritório caiu por terra. Estou percebendo que as reuniões virtuais têm uma produtividade até maior em alguns casos, porque as pessoas se escutam, diferente de quando é pessoalmente, com falas atropeladas e sobrepostas”. Para isso, claro que a empresa (e todo varejo) teve que aprender rapidamente a usar ferramentas digitais. Correa acredita que esse momento mudou a relação dos consumidores com as lojas. Agora o contato não depende mais tão exclusivamente de as lojas estarem abertas. Pode acontecer de outras formas em multicanais.

Nuricel Aguilera, da Alpha Lumen

Mudanças na educação

Transportar a dinâmica do espaço físico para o digital também foi um grande desafio imposto às escolas. Nuricel Aguilera, fundadora do Alpha Lumen, instituto que ajuda a desenvolver crianças com altas habilidades, acredita que o ensino nunca mais será igual e que a tendência é que daqui para frente se torne híbrido, ou seja, um misto entre presencial e virtual. Com mestrado na área de tecnologia da inteligência artificial, Nuricel disse no episódio #23 que já vinha desenvolvendo antes da pandemia uma estrutura de aulas à distância. “Se você não consegue transladar uma estrutura presencial para uma estrutura digital, tem que criar uma estrutura traduzida que funcione bem”, afirma.

Felipe Simas, da F/Simas

A indústria do entretenimento

Outro setor altamente impactado pela crise foi o de entretenimento. Com shows e qualquer tipo de aglomeração proibidos, o showbusiness tal qual o conhecíamos colapsou. Os artistas rapidamente desbravaram as lives, mas a novidade perdeu um pouco o fôlego com audiências mais baixas no decorrer dos meses, conforme as pessoas foram retomando suas atividades. Felipe Simas, empresário do duo Anavitória e da cantora Manu Gavassi, contou no episódio #27 que acredita que mesmo depois de a pandemia ser controlada, a aglomeração não voltará tão cedo. A previsão de retorno dos concertos com plateia é para o final do ano que vem. Enquanto isso, o empresário aconselhou seus artistas a aproveitarem o momento para pensar em ideias, produzir conteúdos novos, pois tudo isso irá reverberar no futuro. “Acho que faz parte de nós, produtores culturais, encontrarmos maneiras seguras de fazer a roda girar, porque existem trabalhadores (e famílias) que dependem dessa indústria”, afirma.

Heitor Dhalia, da Paranoid BR

Gravações remotas no cinema

O cineasta e empresário Heitor Dhalia, da Paranoid BR, entrevistado do episódio do podcast que vai ao ar na semana de 10 de agosto, contou que, num primeiro momento, teve seu negócio completamente paralisado e ficou preocupado com tantos elementos desconhecidos que a pandemia trazia. Mas logo encontrou também oportunidades de manter a empresa ativa. A Paranoid foi uma das primeiras produtoras a fazer gravações de maneira remota e rapidamente adotou os protocolos de higiene para retomar trabalhos presenciais. Além da adaptação imediata, Heitor afirma que esse período apenas reforçou a importância do conteúdo audiovisual como forma de arte e entretenimento.

Dentro do Atitude Empreendedora também tivemos que nos adaptar ao novo jeito de gravar. E a tecnologia foi nossa grande aliada, assim como da imensa maioria dos negócios. O Studio Tesis foi muito ágil para responder aos desafios do momento. Rapidamente encontrou uma plataforma que viabilizou as gravações à distância. Era só acessar uma URL, apertar um botão e começar a gravar com cada participante em sua casa. Nós, da reportagem do Atitude, que somos da escola de jornalismo à moda antiga, que sempre preferimos fazer entrevistas pessoalmente e sem pressa, também tivemos que quebrar barreiras. Felizmente, descobrimos que dá, sim, para criar conexões profundas e trazer à tona revelações e reflexões inspiradoras, mesmo à distância.  

Por Vanessa Nagayoshi

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