Quero ser Amazon! A estratégia de varejistas para crescer no digital

Em 2020, pelo terceiro ano consecutivo, a Amazon está em primeiro no ranking das 500 marcas mais valiosas do mundo, avaliada em US$ 220,7 bilhões. A história da empresa começa em 1994, quando Jeff Bezos, com 30 anos, deixou uma carreira promissora no mercado financeiro, com uma ideia de montar uma livraria virtual. Foi desencorajado por muitos que não acreditavam no potencial da internet. 

Confiante na sua aposta, Bezos colocou a Amazon no ar em julho de 1995. Em um ano, eram vendidos 100 livros por hora. Anos depois, transformou a empresa no primeiro grande marketplace do mundo. A companhia virou um intermediário entre o varejo e o consumidor, criando um ecossistema que auxilia a compra do cliente e facilita a vida de pequenas empresas que querem vender seus produtos e atingir mais consumidores. Virou um exemplo para companhias de todo mundo, inclusive as do Brasil. 

Segundo Daniel Castello, consultor e palestrante em Estratégia e Transformação Digital, vamos assistir cada vez mais as empresas que já atuam no comércio eletrônico comprarem outras para fazer crescer sua área de atuação. A intenção maior é acrescentar novos serviços de cobrança, entrega ou mesmo de conteúdo para criar uma experiência mágica para os clientes, sejam eles os lojistas que plugam sua loja nos marketplaces ou o consumidor final que fez uma compra online. “O que estamos assistindo nesse momento é a formação de ecossistemas. Estamos vendo a reconfiguração do mercado on-line/off-line, físico e virtual a partir de plataformas digitais”, diz Castello.

O Atitude Empreendedora analisou os passos (leia-se aquisições) mais recentes de algumas das principais varejistas atuantes no Brasil. Magalu, Mercado Livre, B2W e Via Varejo têm disputado clique a clique os consumidores para seus produtos. Estão todas cientes de que este é o caminho para garantir o crescimento. O benchmark: a Amazon.

Magazine Luiza e suas aquisições ao longo do ano 

Magalu: investimento em empresas de software para aumentar atuação

No começo do ano, o Magazine Luiza comprou a Estante Virtual, por R$ 31,1 milhões. O movimento era esperado desde o final do ano passado. A compra faz parte do plano da empresa de oferecer uma maior diversidade de categorias em seus canais de venda, indo além de eletrônicos e eletrodomésticos e, é claro, para competir com a Amazon. Mas ela não parou nessa aquisição. Em julho, anunciou a compra da startup Hubsales, que opera um modelo de venda de serviços, como logística, entrega e estocagem, para a indústria de confecções e calçados de Franca, no interior de São Paulo. Com isso, o Magalu vai usar os conhecimentos da startup para repetir seu modelo em outros polos fabris.

Para virar um ótimo marketplace e passar a ilusão de que o consumidor está apenas em uma grande loja, como acontece na Amazon, a empresa precisa ter capacidade em todas as áreas. Logística, faturamento, sequenciamento, marketing, venda, precificação e cadastro dos fornecedores precisam estar em constante desenvolvimento. Comprando a Canaltech e a Inloco Mídia, o Magalu turbinou seu marketing digital e o chamou de MagaluAds.

Uma das vantagens da compra do Canaltech é que se trata de uma plataforma multimídia – que atinge mensalmente 24 milhões de visitantes – com foco na produção de conteúdo de tecnologia e resenhas de produtos. Agora, no final da análise tecnológica terá a oferta do aparelho, o que possivelmente levará o leitor para o marketplace do Magalu. 

A plataforma Inloco Media é a divisão da empresa Inloco focada na comercialização de publicidade digital. Com essa aquisição a empresa vai acelerar o crescimento do MagaluAds, compondo o time com 12 desenvolvedores e especialistas que atuavam nessa divisão na Inloco. 

Na sua quinta aquisição do ano, o Magalu investiu no avanço da área de cadastros dos fornecedores, com a compra da startup Stoq. O objetivo principal é oferecer ferramentas que ajudem na digitalização das pequenas e médias lojas físicas que integram o marketplace do Magazine Luiza, possibilitando que eles aceitem em suas lojas pagamentos com o Magalu Play, carteira digital da empresa. 

A compra mais recente da varejista foi o AiQFome, aplicativo de delivery de comida. Essa aquisição veio do interesse do Magalu em expandir seu ecossistema e aumentar a frequência da plataforma. A empresa adquirida possui uma estratégia de expansão inovadora e focou seu crescimento em cidades pequenas e médias no interior do país, onde a varejista já é forte no mundo de tijolo e cimento. 

Mercado Livre capricha na entrega 

Mercado Livre: logística própria para garantir entrega no prazo

Outro ponto exemplar da cultura da Amazon é a rápida capacidade de entrega do produto para ver os seus clientes cada vez mais fiéis, e o Mercado Livre vem seguindo os mesmos passos. Em agosto, a empresa argentina de comércio eletrônico tornou-se a mais valiosa da América Latina com ações em Bolsa, ultrapassando a Petrobras. Um dos motivos para a alta valorização foi o seu avanço na área da logística, em meio ao crescimento do e-commerce durante a pandemia de coronavírus. 

O Mercado Livre possui dois centros de distribuição no estado de São Paulo e começou a operar seu terceiro na Bahia. Outro, na região Sul, deve ser inaugurado ainda neste ano. Investiu também na contratação de 60 carretas, para ajudar nas entregas de encomendas. Tudo pensado para que seus consumidores recebam suas encomendas com agilidade, transmitindo confiabilidade e zelo com as entregas. O Mercado Envios Flex promete envio no mesmo dia, sem depender dos Correios.

No início de setembro, o Mercado Livre deu mais um passo em direção à entrega ágil. Anunciou sua entrada como sócio estratégico da empresa de logística Kangu, startup que já tinha o Mercado Livre como parceiro e cliente desde 2019. A Kangu atua como ponte entre pequenos comerciantes e consumidores que vivem na mesma região, reduzindo distâncias, trazendo mais agilidade às entregas e comodidade aos usuários. Seleciona e habilita lojistas de bairro, que tenham interesse em se tornar pontos de coleta e de entrega da rede de parceiros. O Mercado Livre vai orientar a startup sobre o melhor destino e quantidade ideal para cada local.

Estes pontos agora são alternativa para vendedores do Mercado Livre deixarem alguns produtos para facilitar o trabalho das empresas de transporte, que encaminham os itens para o destino final. Servirão também para os compradores que precisarem de um local para receber o produto fora de casa. 

No balanço do segundo trimestre deste ano, com o isolamento social imposto pela pandemia do coronavírus, as vendas do Mercado Livre saltaram 123,4%, comparado com o mesmo intervalo de 2019, totalizando US$ 878,4 milhões. Entre abril e julho a empresa somou 17 milhões de novos usuários e completou 3,3 milhões de transações diárias por meio do Mercado Pago. 

B2W aposta em descontos de olho na Black Friday 

Isenção de taxas para atrair mais lojistas

Assim como a Amazon, a B2W quer chamar a atenção das empresas para fazerem parte de seu marketplace. Entre abril e junho, cadastrou mais de 45 mil lojistas na plataforma, aumentando o sortimento dos sites em 226% na comparação com o mesmo período em 2019, totalizando quase 40 milhões de itens distribuídos por mais de 40 categorias. Para manter esse crescimento, anunciou novos serviços e isenções em cobranças dos lojistas nos próximos meses. 

A dona do Submarino, Americanas.com e Shoptime divulgou em seu evento B2W Summit que durante a Black Friday isentará de taxas os lojistas usuários de fulfillment, serviço completo que vai da armazenagem nos centros da B2W até a entrega de produtos do lojista ao cliente. A iniciativa deve atrair um número maior de lojas para o marketplace da empresa. 

Mas a isenção só valerá para lojistas que já usam o pacote completo de serviços digitais da B2W, um total de 908. É um número baixo perto da base total de 70 mil de vendedores. A empresa também não vai cobrar a taxa sobre o valor do frete até o final do ano. 

Outra ação da B2W é permitir uma exclusividade para o vendedor dentro do seu marketplace, como se fosse uma loja virtual com a sua própria marca e layout. Antes, ao fazer uma busca no Submarino ou Americanas.com, várias mercadorias de diversos lojistas eram mostradas ao consumidor. Na parte de entregas, a B2W também irá oferecer serviço de entrega próprio para itens acima de 30 quilos e será cobrada um percentual do valor da venda. 

Via Varejo investe em serviços financeiros

Via Varejo: é loja ou banco?

Para se destacar no ambiente de inovação tecnológica e potencializar a inclusão, como faz parte da estratégia da Amazon, a Via Varejo, controladora das Casas Bahia e Pontofrio, adquiriu 100% das ações da banQi, plataforma digital criada pela companhia americana AirFox. 

O aplicativo permite aos usuários o acesso a serviços de depósitos nas lojas das Casas Bahia e Lotéricas, saque nas Casas Bahia, opção de pagar carnês, boletos, contas, fazer transferências e efetuar recargas de celular pelo app. Os serviços são gratuitos aos correntistas do banQi. 

No último trimestre, a empresa teve um volume bruto vendido nas operações de e-commerce de R$ 5,081 bilhões, crescimento de 280%. A Via Varejo pretende chegar a 500 pequenos centros de distribuição (hoje eles contam com 380), para que as entregas sejam mais ágeis e diminuam os custos de frete para os clientes. A empresa é uma forte candidata a liderar a próxima inclusão digital, segundo relatório do Banco Safra enviado a investidores. 

Com todo esse movimento tecnológico do varejo, a disputa pelos clientes será cada vez mais nos bits e bytes. Quem melhor se digitalizar, mais chance terá de vencer.

Por Bruna Galati

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