Carta aberta: uma tendência para a comunicação?

Durante este período de pandemia, nos deparamos aqui no Atitude Empreendedora com algumas reportagens repercutindo cartas escritas por CEOs de grandes empresas. A mais destacada delas foi certamente a carta de Jeff Bezos, sobre a qual fizemos um post. Nela, Bezos contou sua história e tentou defender seu negócio um dia antes de prestar depoimento no Subcomitê Antitruste da Câmara de Representantes dos Estados Unidos.

O isolamento social e os efeitos da pandemia aparentemente estimularam a disseminação desse formato. Desde o início da quarenta, presidentes de empresas têm usado esse meio para explicitar ações e comunicar atitudes de uma forma direta e sem intervenções. A explicação para esta preferência pode estar na maior facilidade para comunicar o que eles têm a dizer. Se antes as grandes comunicações dependiam das capas de revista ou dos sites de notícia para serem divulgadas, agora o cenário mudou. Com a internet, a distribuição das notícias se democratizou e agora pessoas e marcas podem fazer sua própria publicação. Além da Amazon, CEOs de outras grandes companhias como Salesforce, XP Investimentos, Laureate e Airbnb também usaram cartas para dar seus recados. 

Dia 17 de março, ainda início da quarentena e de um período de grandes incertezas, Marc Benioff, CEO da Salesforce, empresa de software on demand, comentou sobre o cenário mundial em carta aberta aos seus clientes. Mostrou que os dizeres  “O sucesso é baseado na confiança. A confiança começa com transparência” estampados em seu site não estão restrito somente à proteção de dados. O presidente reitera a preocupação com as vítimas e seus familiares, decreta o home office nos escritórios do mundo inteiro e fala das ações da companhia durante o isolamento, incluindo doações a eventos online. Por fim, deixa o seu e-mail para que o procurem diretamente as pessoas que tiverem sugestões de como a empresa pode ajudar com sua tecnologia.

“Enquanto todas as empresas e negócios navegam por território desconhecido, reforçamos que a Salesforce foi construída para lidar com momentos como este e nosso comprometimento com o seu sucesso permanece mais forte do que nunca. Nossa empresa foi fundada sobre valores essenciais — confiança, sucesso do cliente, inovação e igualdade — e estes valores continuam guiando nossas decisões e tudo o que fazemos”

Marc Benioff, CEO Salesforce

Outra companhia que também optou por comunicados em formato de carta aberta foi a Laureate International Universities. Eilif Serck-Hanssen, CEO do grupo, escreveu uma breve mensagem a fim de tranquilizar os alunos diante de um momento de grande dificuldade para a educação. 

Eilif abre as fragilidades da situação, reconhece a discrepância nas realidades das universidades em cada país e destaca a importância da educação.

“Nos encontramos em um período desconhecido e de incertezas, como nada que eu tenha visto em minha vida. No entanto, estou certo de que a educação nunca foi tão importante. Serão os cientistas, pesquisadores, médicos, enfermeiros, socorristas e todos os que trabalham nas redes de suprimentos que nos ajudarão a encarar esse momento, junto com os líderes comunitários, escritores, artistas e aqueles que inspiram, entretêm e capacitam-nos a distância.”

Eilif Serck-Hanssen, CEO Laureate International Universities

Brian Chesky, CEO do Airbnb, empresa americana de hospedagem, também usou uma carta para justificar as demissões no seu time logo no início da pandemia. Ele direcionou suas palavras aos funcionários. Contando que a empresa faz parte de um dos setores mais afetados pela crise, o turismo, a carta teve a intenção de esclarecer. Nela, Brian conta detalhes que levaram a decisão da companhia de cortar 25% de seus funcionários. 

“Ficou claro que teríamos que ir além quando enfrentamos duas duras verdades: 1. Não sabemos exatamente quando as viagens serão retomadas; 2. Quando as viagens retomarem, elas serão feitas de forma diferente” 

Brian Chesky, CEO da Airbnb

Guilherme Benchimol, CEO da XP investimentos, já era simpatizante do formato e havia escrito uma carta aberta a possíveis investidores quando fez o IPO, em 2019. Mente aberta, sonho grande e espírito empreendedor foram características listadas naquela época e reiteradas agora em sua carta de resposta aos ataques do Banco Itaú sobre comissionamento dos assessores na distribuição de produtos financeiros. Na carta, ele explica seu modelo de negócio e o motivo pelo qual não segue o padrão dos grandes brancos que, segundo ele, se sentem incomodados pela XP. Defendendo o espírito empreendedor dos assessores de produtos financeiros, Benchimol responde aos ataques e garante que o propósito de transformar o mercado financeiro segue o mesmo. 

A campanha do Itaú só reforça que estamos no caminho certo. Para o maior banco do país, com mais de 90 anos de tradição, ir a público e ofender uma profissão tão fundamental para o desenvolvimento financeiro dos brasileiros, é porque realmente percebeu que não consegue mais competir colocando o cliente em primeiro lugar.

Guilherme Benchimol, CEO da XP investimentos

A carta do CEO da XP disponibilizada pelo Linkedin abriu uma grande discussão nos comentários sobre suas declarações. E, de certa forma, aproximou o Benchimol de seus clientes e da sociedade. 

Seja pelo formato mais direto, sem intervenção de terceiros, ou pela vantagem de ser publicada no momento desejado pela empresa, as cartas têm ganhado força e estão se tornando o “novo normal” da comunicação corporativa.

Por Victoria Pirolla

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